A história de um quasi-romântico Pimpinela Scarlate correndo o mundo na forma de Julian Assange dando ferroadas nas sombras do cyberespaço. Tem um apelo, sabe, muito grande ... Estou feliz de estar entre tantas pessoas que respeito. Assange é uma figura midiática ideal. Ele tem sido representado como o caubói solitário da era da informação. [Homem] Você é o único que parece um anjo, um verdadeiro anjo. [Assange] Eu?! Um verdadeiro anjo?! Prêmios e elogios choveram sobre o Wikileaks. Time Magazine incluiu Assange em uma pequena lista dos homens mais influentes do mundo. Vocês deveriam se lembrar das palavras de Soulzhenitsyn que diziam que no momento certo uma palavra de verdade prevalecerá sobre o mundo. Mas nem tudo está calmo no fronte do Wikileaks. Assange está consciente de que o material sobre o Iraque que logo será lançado irá esquentar ainda mais os ânimos. Em agosto ele viaja para a Suécia. Ele vai em busca de um visto de residente para ter a proteção da melhor legislação do mundo em liberdade de imprensa. Após dias de especulação, o Partido Pirata anuncia que está se responsabilizando pela segurança e gestão dos servidores do WikiLeaks. [Repórter] Isso significa que o Wikileaks está se tornando mais sueco? [Assange] Espero que sim. A princípio, tudo vai bem. Julian Assange é recebido de braços abertos. Ele é convidado a participar dos principais partidos e sindicatos. E há quem diga que ele deva receber o Nobel da paz. Julian Assange agita a mídia em uma visita a Estocolmo. Ninguém quer perder o homem por trás do site que revelou em três anos mais do que todas as organizações de imprensa do mundo. Alguns dias depois a cena muda completamente. A justiça decidiu investigar Julian Assange... Julian Assange foi interrogado na noite passada. Autoridades suecas expediram um mandado de prisão para o fundador do Wikileaks, Julian Assange. Ele é acusado de estupro e abuso sexual Em 20 de agosto Assange é acusado de estupro. O crime alegado é imediatamente divulgado em toda a imprensa. Por trás das acusações há 2 mulheres que tiveram relações ocasionais com Assange. As mulheres não fizeram nenhuma declaração em público, mas o importante jornal vespertino Aftonbladet publica uma entrevista anônima com uma delas, que declara que o que começou como sexo consensual, logo se tornou o que ela considera um abuso, mas ela não está com medo dele e ele não é violento. Julian Assange, fundador do WikiLeaks e suspeito em um crime de estupro, está comigo agora no telefone, [Jornalista] Muito obrigado por falar conosco, Sr. Assange. [Jornalista] O que você pensa disso? Claramente é um tipo de campanha de difamação. Bem, eu vim à Suécia como um refugiado, um editor refugiado, envolvido em uma batalha extraordinária de divulgação contra o Pentágono onde nosso pessoal estava sendo detido, em uma tentativa de me acusar por espionagem. Portanto eu estou infeliz e desapontado sobre como a justiça Sueca foi usada. Assange diz que nunca forçou ninguém a fazer sexo, e que o judiciário sueco está sendo usurpado. Ele alega que está sendo vítima de vingança pessoal e pressão dos EUA. [Birgitta Jonsdottir] Isso incomodou muitos de nós que trabalhamos com a organização, a forma como este caso foi confundido com o WikiLeaks, a forma, com certeza deve ter havido uma festa na Embaixada Americana na Suécia quando eles leram esta notícia. "Sim, não precisamos fazer nada além de transmitir isso." Mas qual seja a verdade, uma sombra tem sido projetada não só no nome de Assange, mas também no do Wikileaks. As alegações de estupro levaram a uma onda de protestos a favor do WikiLeaks. o WikiLeaks se tornou uma sensação em razão dos dois últimos grandes furos de reportagem, e os únicos vazamentos que foram veiculados pela grande mídia que são o WikiLeaks contra os EUA ou Julian Assange vs o Pentágono. Esse não é o objetivo do Wikileaks. É um site que busca todo tipo de vazamento de todo o mundo. [Daniel Bormscheitt-Berg] Isso enfraqueceu a organização. É minha impressão. Muito foco em uma pessoa e uma pessoa é sempre mais fraca que uma organização. A divergência de opinião começou quando Assange decidiu colocar todos os recursos do Wikileaks nos gigantes vazamentos americanos. O que agora se tornou uma grande fonte de descontentamento sobre como a organização deveria funcionar. [Daniel Bormscheitt-Berg] Eu penso que a coisa mais inteligente a fazer seria fazer isso lentamente, passo a passo, para engrandecer o projeto. Isto não aconteceu. O que aconteceu foi selecionar os maiores lançamentos para lançar estes, colocando todos os esforços, todos os recursos, todas as coisas, disponíveis na produção destes lançamentos. Outras vozes se juntaram à crítica. Alguns através de entrevistas anônimas concedidas à mídia. Agora é a vez de Assange de procurar por vazamentos. Este é um trecho de uma conversa entre Domscheit-Berg e Assange: Julian: Foi você? Daniel: Eu não falei com a Nesweek ou outro canal de mídia a esse respeito. Eu falei para pessoas com as quais trabalhamos. Julian: Quem exatamente? Daniel: Eu não tenho que responder. Julain: Você se recusa a responder? Daniel: Encare o fato de que você não tem mais tanta credibilidade lá dentro. Você age como uma espécie de imperador ou mercador de escravos. Se você prega transparência para os outros você tem que ser transparente você mesmo. Você deve satisfazer as mesmas exigências que faz às outras pessoas. E eu acho que foi a partir daí que nós passamos a não mais compartilhar da mesma direção filosófica A discussão encerra com Daniel e muitos outros saindo do WikiLeaks. [Herbert Snorasson] Enfim, isso terminou comigo discutindo com Julian sobre seu comportamento ditatorial, o que acabou com Julian me dizendo que "se eu tivesse um problema com ele, eu poderia simplesmente cair fora". Esses que saíram da organização construíram em silêncio seu próprio site, Openleaks, que vai funcionar sem um editor autoritário e servir exclusivamente como um serviço de publicação online: que permite às pessoas divulgar anonimamente suas informações à mídia. [Domscheitt-Berg] O OpenLeaks é um projeto tecnológico que almeja ser um provedor de serviços para terceiros que têm interesse em veicular material enviado por fontes anônimas. Bem, não me sinto muito inclinado a falar sobre as pessoas, as poucas pessoas, cujos interesses não são mais compatíveis com os do Wikileaks. Mas o que ouvi é que algumas outras pessoas estão contemplando abrir seus próprios websites, com a mesma idéia do WikiLeaks. O que eu considero uma excelente idéia, e lhes desejo sucesso. Eu penso que quanto mais, melhor. O WikiLeaks continua a empreender sua estratégia que leva a uma massiva reação midiática quando a próxima parte do material é publicado. [Ian Overton] Não consigo pensar em nenhum caso em que um canal de notícias via satélite, o serviço mundial de rádio da BBC, canais terrestres, radiodifusores e internet, estão todas trabalhando juntas, ao mesmo tempo, na história. Esta publicação trata sobre a verdade. São arquivos secretos da Guerra do Iraque A Plataforma WikiLeaks... O WikiLeaks publicou cerca de 400 000 páginas de documentos secretos. Bem, quero dizer que em relação às alegações de não interferência quando se trata de casos de abuso de prisioneiros, não são verdade. Os vazamentos do Iraque ganham as primeiras páginas ao redor do mundo. Graças à estratégia de Assange, os furos alcançam um grande impacto que grandemente aumentam os recursos do WikiLeaks. Agora 40 voluntários trabalham quase em tempo integral para a organização, com outras 800 pessoas disponíveis para tarefas específicas. O WikiLeaks agora tem recursos para planejar futuras divulgações. Mas, primeiramente, há a parte final do material dos EUA a ser lançado. [Assange] Para essa última publicação nós escolhemos um método diferente decidimos liberar pouco a pouco, ao invés de tudo de uma vez. Desta vez, no entanto, o novo material contém revelações cujas consequências são bem mais difíceis de avaliar que as de publicações anteriores. Foram lançados - os primeiros de milhares cabos diplomáticos americanos. Os EUA condenam fortemente a divulgação ilegal de informações secretas. Em uma chuva de críticas o WikiLeaks é acusado de ameaçar a paz mundial São eles e seus parceiros da mídia suficientemente competentes, para avaliar as consequências da divulgação de centenas de milhares de correspondências diplomáticas, cobrindo tudo, desde reatores nucleares no Irã, à política interna da Arábia Saudita? Ou novamente se trata de uma questão dos fins justificarem os meios. Para Christian Whiton as coisas são muito mais simples do que isso. Eu penso que o Sr. Assange está mesmo promovendo uma guerra política. Ele não está usando armas, mas também não está simplesmente usando coisas suaves como palavras. Ele está usando informação - empunhando informações contra nós, se você preferir. Isso pra mim é guerra política. De longe o WikiLeaks é uma força para promover o bem. Mas acho que não devemos ser absolutos a esse respeito. O Wikileaks é muito, muito poderoso. E eu acho que as pessoas tem que ser muito cuidadosas com qualquer coisa que seja muito poderosa. O site do Wikileaks pode desaparecer de novo amanhã, ou de repente reaparecer em milhares de outros locais. A História ainda está sendo escrita. E as alegações de estupro estão longe de estarem resolvidas. Algo é claro: o que quer que aconteça, o Wikileaks plantou uma semente, algo que é impossível apagar. Sobre novas formas e canais de disseminar informações secretas, que terão um profundo efeito sobre a transparência. Não só na internet, mas numa ampla dimensão global. O que verdadeiramente aprendi nos últimos 3 anos é que a diferença pode ser feita de baixo pra cima, e não somente de cima pra baixo. [Smari McCarthy] A informação não respeita fronteiras. Estados terão que pensar novas formas de lidar com a informação. Qualquer Estado que falhar nisso deixará de existir. [Whiton] Bem, se vamos ter uma política militar e de defesa, é um pressuposto que a informação seja controlada. Com certeza nós somos uma democracia, nós somos um dos países mais democráticos, acredito, da história do mundo. Mas as informações têm que ser protegidas em certas circunstâncias e negadas ao público. Uma democracia sem transparência não é uma democracia. É apenas uma palavra vazia.