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"Estás disposto a sacrificar a tua vida?"

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Quando o videoclip da música Monster do Kanye West foi posta na Internet,

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gerou uma quantidade enorme de controvérsia devido à representação das mulheres que nele existiam.

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O vídeoclip é repreensível e eu sugiro que não o vão ver se puderem evitar porque

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eu realmente desejo não o ter visto.

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Para vos dar uma ideia, o vídeo é baseado na alegoria da "Sexy mulher morta".

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Que parece estar a aparecer em todo o lado, ultimamente.

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Ao longo do vídeo é-nos apresentadas séries de corpos de mulheres sem vida, quase nuas e mutiladas.

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Vemos mulheres, ou partes delas, pálidas, estendidas por sofás, deitadas em camas, presas em armadilhas,

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mas todas com a maquilhagem perfeitamente aplicada e em saltos altos.

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Para além das partes do corpo desmembradas e sexualizadas, somos também presenteados com

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o Kanye a segurar uma cabeça acabada de cortar.

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Noutra cena o Kanye está deitado na sua cama, a arranjar os corpos sem vida

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vestidos apenas com lingerie.

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As mulheres Negras no vídeo não estão mortas como as Brancas, na verdade, elas são

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más, canibais, demónios que atacam o Kanye e comem homens.

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Recapitulando: Mulheres Brancas, eróticas, mutiladas e mortas. Mulheres Negras, animalescas, selvagens e demónios.

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Monster é um single do seu álbum "My Beautiful Dark Twisted Fantasy", que é número um nos tops.

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De quem é a culpa? Do Kanye, claro, mas também da produtora Roc-A-Fella, da Universal Music Group,

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de toda a industria musical, e da maneira como o mercado funciona, em geral.

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As produtoras de discos têm o objectivo de tentar que os seus artistas se destaquem num mundo musical

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demasiado populado. Há décadas que fazem produtos sexualizados, chocantes e violentos.

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Cada vez mais vemos a indústria a confiar, cinicamente, no sensacionalismo e glamour da

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violência contra as mulheres de forma a aumentar as vendas.

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Não vou fazer uma análise de filmagem a filmagem do vídeo nem dos temas usados,

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para ser honesta, nem sequer o vou mostrar.

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Isto nem devia ser preciso dizer mas infelizmente é.

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Isto é misoginia.

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E devia deixar-nos cheias de raiva, e com razão.

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E talvez esta seja uma boa altura para definir misoginia porque parece haver alguma confusão

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sobre a palavra em relação ao videoclip do Kanye.

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Primeiro, quando falamos sobre mulheres, referimo-nos a um ser humano completo

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e a tudo o que isto implica.

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Misoginia, definido pelo Dicionário Blackwell de Sociologia, é "uma atitude de ódio

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por mulheres simplesmente porque são mulheres. É a base do preconceito e ideologia sexista e,

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assim sendo, é uma das bases da opressão das mulheres numa sociedade dominada por homens.

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Misoginia é manifestada de diferentes maneiras, desde anedotas, a pornografia, a violência,

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ao auto-desprezo que as mulheres podem ser ensinadas a sentir em relação ao seu próprio corpo."

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De novo, a misoginia pode ser tanto óbvia como subtil.

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Este videoclip é um exemplo de misoginia da maneira mais óbvia, que o Kanye desculpa dizendo

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que é uma maneira de gerar "controvérsia e vendas".

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Como a Samhita diz no seu artigo na Feministing, "Se ele quisesse mesmo criar uma tempestade, ele devia

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tratar as mulheres como seres humanos, isso sim ia chocar".

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Monster não só reduz as mulheres a objectos sexuais e perpetua os estereótipos racistas mas

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também transforma em fetiches os aspectos das mulheres que não necessitam que estas estejam fisicamente vivas.

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Acho que é melhor reforçar a ideia, este vídeo transforma em fetiches os aspectos das mulheres

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que não necessitam que estas estejam fisicamente vivas.

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"...têm a auto-estima tão em baixo, as pessoas mais bonitas fazem as coisas mais horríveis para estar no caminho da riqueza e dos anéis de diamantes."